Meus brincos
vem a mim como filhos,

me crescem como trepadeiras, brotam.
contam historias de amores e de viagens,
falam de lugares remotos e da esquina.

São peças arqueologicas,
vem nas sacolas de um mercader turco,

são a prenda da trapaça de um cigano,

vem dançando na orelha de uma negra em trançe
no batuque do terreiro.

Pretendem curvas roubadas da paisagem,
as sinuosidades do caminho
são a comba do arco-iris de oxumare.

Aparecem simples, limpos como um sorriso,
amigos do pequeno,
uma pedrinha no bolso de uma criança.


As vezes se enchem de brios e estouram
florescendo em mil reflexos,

multidões, tumultos,
recortes,

vidros, sementes, pássaros.


Bugigangas de feira,
doce presente de namorado

fina joia de mandame,
enfeite da moça bonita.


Meus brincos vem de dentro e de fora
catam da planta e da entranha,
descem do ceu e sãem da pança.


Arrisco a dizer que as vezes,
em alguma hora trágica,

espeto meu coração num palito que balança
e lhe-vendo.


Natalia Lorenzo